Conhecida popularmente como Largo do Rosário, muita gente que passa pelo local nem imagina que o seu nome oficial é Praça Visconde de Indaiatuba, e que a igreja de Nossa Senhora do Rosário, que deu o nome popular ao local, foi demolida há mais de 54 anos, em 1956.
No coração da cidade, essa é uma das praças que mais sofreram modificações ao longo do tempo. Cada reforma marca o momento histórico pelo qual a cidade passava.
O local sempre foi tido como ideal para recepção de manifestações políticas e aglomerações. A construção da Igreja do Rosário (em 1817) e a vinda de D. Pedro II a Campinas (em 1846) são exemplos disso – ambos eventos reuniram na praça cerca de 10 mil pessoas – uma multidão para a época.
A Igreja foi demolida para possibilitar o alargamento da Avenida Francisco Glicério, mas deixou para a praça o nome. Confira os principais marcos de reestruturação do Largo do Rosário ao longo do tempo.
Mais de dez mudanças
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário foi construída em 1817. A partir daí, as pessoas já começaram a se reunir em seu entorno, e logo o lugar ficou conhecido como Pátio do Rosário.
A primeira reforma aconteceu em 1846. A praça era um local reservado para festividades. As principais foram as cavalhadas e as solenidades públicas, como as festas em homenagem ao imperador Dom Pedro II.
Em 1854, a Câmara Municipal determinou que o Pátio do Rosário fosse um local de feiras livres. Depois a praça ganhou um projeto paisagístico, com a plantação de árvores, que logo foram transferidas para dar lugar ao busto em homenagem a Campos Salles.
Em 1874, o Largo ganhou um chafariz de bronze.
Em janeiro de 1887, o nome oficial da praça passou a ser Praça Visconde de Indaiatuba, homenageando um dos fundadores do Colégio Culto à Ciência.
Entretanto, a primeira reforma de grande impacto aconteceu em 1895, quando a praça ganhou bancos, calçadas, iluminação a gás e um novo chafariz. Na época, ficou conhecida como a praça com o mais belo jardim da cidade, pois até as árvores mais velhas foram substituídas por árvores novas.
Em 1911, foi a vez de trocar o piso. Pedras portuguesas foram escolhidas para embelezar a praça.
Com o crescimento da cidade e da população, as ruas tiveram que ser alargadas para comportar mais carros. Em 1927, a praça foi reduzida, em virtude do alargamento das ruas do entorno.
Em 1933, árvores e bichos preguiça ocupavam a praça, fazendo a festa da garotada. Por uma decisão do prefeito da época, as àrvores foram cortadas para evitar a aglomeração de indigentes. A alteração não foi bem recebida pela população.Então, em 1934, a praça precisou passar, novamente, por mudanças.
Na década de 50, a Igreja do Rosário foi demolida e o monumento a Campos Salles foi levado para o início da avenida que leva o seu nome. As árvores que ainda restavam foram removidas. O novo projeto para a praça incluia a implantação de marquises. Após a demolição, uma nova e menor igreja dedicada à Nossa Senhora do Rosário foi erguida no Jardim Chapadão.
Em 1983, houve uma tentativa de reconstrução total da praça. O Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT) do estado de São Paulo embargou a obra, alegando que o Largo do Rosário estaria na área da Catedral Metropolitana de Campinas. Por esse motivo, nenhuma alteração poderia ser feita sem a autorização da Catedral.
A última grande reforma aconteceu em 1998, quando as marquises foram demolidas e a praça foi remodelada, inspirada no projeto de 1934.
Mesmo com tantas mudanças, é curioso observar que as bancas de jornal instaladas na praça permanecem no local – mudando de lugar a cada reforma. Ao todo são quatro bancas no Largo do Rosário, quatro na praça do Fórum (Praça Rodrigo Otávio), e mais duas bancas na Avenida Campos Salles, próximas às praças.
A mais antiga delas é a Banca do Lazinho, que está no Largo do Rosário, há mais de 65 anos. O responsável pela banca, João Fernando Costa de Jesus, filho do senhor Lazinho, confirma que a cada reforma da praça, a banca mudou de lugar. “Nas fotos antigas dá para ver a banca, cada ano num lugar diferente”, contou.
João Fernando contou, também, que, a cada mudança, a banca tem que se adaptar ao público. “Hoje oferecer o serviço de xerox é o diferencial, porque as pessoas passam pelo Centro com mais pressa e em busca de serviços rápidos. Quando a praça tinha mais árvores, a gente vendia mais revistas do que jornais, porque as pessoas paravam aqui mesmo para ler”, lembrou.
Francisco de Pereira trabalha na banca vizinha, a Banca do Chiquinho, há 35 anos. “A convivência entre as bancas é harmoniosa. O Largo do Rosário recebe muita gente, e não precisamos disputar clientes”, afirmou.
Os meios de transporte ao longo do tempo
A cada reforma da praça, veio um novo meio de transporte. O Largo do Rosário já teve ponto de parada de bondes; ponto de tílburi (carros puxados por um cavalo); foi um importante ponto de ônibus; e, hoje, restaram nas proximidades pontos de táxi do lado da Praça do Fórum. Mas, todos eles conhecidos sempre como “o ponto do Rosário”.
Atualmente, são 29 táxis à disposição dos passageiros. O taxista Nelson de Oliveira trabalha no ponto do Rosário há 14 anos. “Aqui a gente atende mais o pessoal que está perdido no Centro da cidade, com corridas mais rápidas”, contou.
Sobre o ponto manter o nome de Rosário, mesmo depois que a Igreja foi demolida, Oliveira dá o seu palpite: “Eu acho que é por causa do restaurante, que fica ali onde era o ponto dos bondes. Por ser um restaurante tradicional, acaba mantendo o nome da praça”, conclui.
O Restaurante Rosário existe desde 1948. Já mudou de lugar, mas sempre esteve nas proximidades da praça. Quando foi inaugurado, funcionava como um bar.
Arlindo de Paula, gerente, trabalha lá há 25 anos; e sente orgulho dos clientes que já atendeu. “O Rosário já recebeu muitas pessoas ilustres. Já atendemos o presidente Lula e até o Pelé”, contou.
Ao longo do tempo, o restaurante foi sendo reformado, assim como o Largo do Rosário, para se adaptar ao público e ao crescimento da cidade.
E afinal, quem foi o Visconde de Indaiatuba?
Joaquim Bonifácio do Amaral, conhecido como Visconde de Indaiatuba, nasceu em Campinas, e ganhou fama por introduzir aqui o trabalho livre, criando uma colônia agrícola sem escravos. Além disso, foi um dos fundadores do Colégio Culto à Ciência.
O visconde também teve destaque na história da cidade por hospedar D. Pedro II em sua casa em duas ocasiões: na inauguração da linha da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, em 1875; e três anos mais tarde, durante sua excursão pelo interior da província.
A casa existe até hoje, conhecida como o Solar do Visconde de Indaiatuba, na Rua Barão de Jaguara, onde também está instalado um tradicional restaurante da cidade: o Éden Bar.
Fontes:
- Secretaria de Cultura de Campinas
- Livro Edmo Goulart
- Apoio à pesquisa: Wagner do Santos
Fotos
1
|
2
|
3
|
4
|
5
|
6
|
7
|
8
|
9
|
10
|
>>
|