Notícias para Turistas

ver todas
Abolição relembra discriminação com os negros no país

Atravessando os bairros Ponte Preta e Swift, a Rua Abolição é uma das vias mais extensas da cidade. Com cerca de 4 mil metros de comprimento, a via é constituída, basicamente, por estabelecimentos comerciais. Além de extensa, apresenta, também, um alto fluxo diário de veículos, chegando a, aproximadamente, 16 mil em horários de pico. Já em relação às linhas do Sistema InterCamp, 15 delas passam pela Abolição.

Números à parte, a sua denominação é um dos seus diferenciais. Junto com a Rua 13 de Maio, a Abolição é dedicada aos negros, mais especificamente, ao fim da escravidão no Brasil.

Denominada Rua Abolição em 1923, a via era conhecida antes como Rua da Ponte Preta, em referência à ponte instalada nas proximidades.

Em desuso há décadas, no passado, a ponte era pintada de preta para ficar protegida da fumaça das locomotivas. Esse fato que também influenciou na denominação do nome do bairro e do centenário clube de futebol da cidade.

Patrimônio histórico

A Abolição abriga um importante prédio tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (CONDEPACC) como patrimônio histórico em 2003: o antigo Sanatório Santa Izabel, que  teve suas atividades encerradas em 1985, após 47 anos.

Fundado em 1939, o hospital era um dos mais tradicionais da cidade, com 250 leitos.

Hoje, o local foi adquirido pela ACS Incorporadora e será transformado em um condomínio residencial denominado Páteo Abolição. O prédio do hospital será revitalizado e no restante do terreno serão construídas três torres de apartamentos.

A abolição e a liberdade dos escravos

A história da escravidão no Brasil tem início logo após a chegada dos portugueses à Terra de Vera Cruz. Com a falta de mão-de-obra para a realização de serviços manuais, já que o catolicismo condenava a utilização do trabalho indígena, os colonizadores, seguindo o exemplo dos demais europeus, foram em busca de negros na África.

Os escravos eram transportados dentro de porões dos navios negreiros. As péssimas condições em que eram submetidos causavam diversas mortes durante a viagem. No desembarque, eram comprados por fazendeiros e senhores de engenho.

Sendo considerada uma prática “normal”, a escravidão durou cerca de 300 anos. Um dos principais motivos se deve à dependência do trabalho escravo para a economia do país que, infelizmente, tornou a libertação um processo lento e gradual.

O primeiro passo foi dado, em 1850, com a extinção do tráfico negreiro. Vinte anos mais tarde, foi declarada a Lei do Ventre-Livre, em 1871, que tornava livres os filhos de escravos que nascessem a partir de sua promulgação.

Em 1885, foi aprovada a lei dos Sexagenários que beneficiava os negros com mais de 65 anos. Já em 13 de maio de 1888, a Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel, dava liberdade aos negros no Brasil.

A morte de Zumbi e a consciência negra

Apesar da libertação, os negros continuaram a enfrentar todo tipo de sorte para sobreviver. Jogados ao acaso, a partir de 1888, eles não foram privilegiados nas relações de produção, uma vez que a preferência foi dada aos imigrantes brancos.

A liberdade foi acompanhada da miséria; e a necessidade de organização para reagir a esse momento deu início à criação de associações visando combater o preconceito e a discriminação racial.

Um passo importante para a reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira foi a definição do Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro.

Apesar de ser comemorada desde 1960, a lei foi aprovada em 2003 e a data inclusa no calendário escolar. Já a escolha do dia faz referência à morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares.

Um dos principais personagens da história, Zumbi dos Palmares representou a luta do negro contra a escravidão, no período do Brasil Colonial. Os quilombos resistiam ao sistema escravista e lutavam pela manutenção da cultura africana no país. Zumbi morreu em combate e sempre buscou a liberdade do seu povo.

É importante lembrar que os indígenas e escravos africanos foram elementos essenciais para a formação da população e da cultura brasileira. A diversidade étnica verificada no Brasil decorre do processo de miscigenação entre colonos europeus, indígenas e africanos. Desde a culinária até a língua portuguesa, é impossível não perceber a influência da cultura desses povos, seja em aspectos políticos, sociais e religiosos.

A homenagem campineira

Em Campinas, o Dia da Consciência Negra foi instituido, em 2002, como feriado municipal. Durante a semana, a Prefeitura Municipal, através da Secretaria de Educação, promove atividades na rede pública de ensino  e a Coordenadoria Especial de Promoção da Igualdade Racial (Cepir) da Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência e Inclusão Social (SMCAIS) realiza eventos, como oficinas e debates.

Além disso, foi criado, em 2009, o Centro Campineiro da Memória Afrobrasileira, um espaço permanente de exposições, palestras e demais atividades sobre a cultura afro.

Benedito José Paulino, coordenador do Cepir, acredita que a presença desse espaço é importante para a divulgação dessa cultura. “Campinas nunca teve essa oportunidade. Sendo a última cidade do país que aboliu a escravidão, nada mais justo do que reservar um espaço aos nossos antepassados que foram tão discriminados”.

Para ele, o Dia da Consciência Negra concretizou a homenagem aos negros. “A abolição em 13 de maio foi uma falsa liberdade, já que a condição de vida dos antigos escravos continuou precária. Já o dia 20 de novembro, lembra a luta contra a escravidão e o desrespeito com o nosso povo, vindo da África.”

O Centro Campineiro da Memória Afrobrasileira está localizado à Rua Visconde do Rio Branco, 468. “Ninguém nasce com o preconceito. Na verdade, ele é cultivado pela convivência com as pessoas que estão ao seu redor. Espaços assim podem mudar a forma de pensar de muita gente”, conclui Paulino.

Via homenageia Consciência Negra

Além dos espaços culturais, Campinas possui, desde 2009, uma via dedicada à data. Com início na Estação Cultura e término próximo ao Terminal Central, o local, que até então não possuía denominação oficial, foi determinado, pela Câmara, como Rua 20 de Novembro.

O projeto “Nossa cidade, nossa história” localizou, também, outra homenagem no bairro Jardim Nova Esperança, dessa vez, com a Rua Zumbi dos Palmares.

Fontes:
www.campinas.sp.gov.br
www.brasilcultura.com.br