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Artigo - O fretamento e a mobilidade na cidade de São Paulo

Para problemas complexos não existem soluções simples e que sejam eficientes. Mirar no fretamento objetivando resolver o caos da mobilidade no centro de São Paulo é mais do que simplificar a solução, é agravá-la ainda mais. Essa modalidade, muito embora de caráter privado, mantém a condição de transporte coletivo de interesse público, o que por si só já é uma das opções na solução dos congestionamentos e não um problema. Os usuários do fretamento são executivos, funcionários, pequenos empresários e outros com a condição comum de poder optar por transporte mais caro, com particularidades no atendimento e maior qualidade. Pela lógica, esse público, uma vez tendo que desembarcar e realizar baldeação para outro sistema migrará para carros particulares, aumentando todas as mazelas ambientais e demais transtornos relativos à mobilidade. Em média, a cada dez carros circulantes nas ruas da cidade, oito são ocupados por apenas uma pessoa. Por outro lado, um ônibus fretado com cerca de quarenta lugares tem o potencial de retirar das ruas cerca de vinte carros. Num sentido mais geral, a solução passa por uma reflexão ampla, envolvendo uma visão de desenvolvimento da cidade com enfoque multidisciplinar, numa opção de descentralização e sustentabilidade. Descentralizar a oferta de postos de trabalho, por exemplo, deve ser uma opção clara, pois só assim teremos deslocamentos otimizados sem retornos negativos (frota vazia ou subutilizada). Segundo estudos do professor Marcio Pochmann, ainda como secretário do Trabalho da Capital, em 2003, cerca de 70% dos empregos foram ofertados no centro expandido, comprovando um obrigatório e desgastante vai e vem diário de trabalhadores da periferia para a região central. A conversão dessa realidade deve ser perseguida como efetiva alternativa de melhoria da circulação nos centros das grandes cidades. No âmbito do transporte e trânsito, São Paulo adotou, nas últimas décadas, boas medidas: criou o Bilhete Único e ampliou seus corredores de circulação exclusivos para ônibus. No entanto, tem feito investimentos muito abaixo do necessário na ampliação das linhas do metrô. A falta de decisão política expressada na estagnação da ampliação da rede de corredores constitui uma opção equivocada, pois mostra a ausência da prioridade para com o transporte coletivo sobre pneus na atualidade. Portanto, optar por medidas restritivas novamente denota uma opção insuficiente e segregacionista, pois promove um tratamento igual, inclusive com sanções pecuniárias para cidadãos que apresentam diferentes realidades econômicas. Ou seja, as medidas restritivas não atingem com eficiência aqueles que têm a possibilidade de adquirir um segundo carro e escapar do rodízio de placas ou aqueles que, com mais poder aquisitivo, podem suportar um eventual pedágio. É nesse contexto, portanto, que trazemos os elementos acima em caráter de reflexão, no sentido de contribuir com a adoção de medidas que melhorem a mobilidade em nossa capital. Especialmente por que a repercussão e o sentimento geral são de que as últimas medidas adotadas pelos mandatários do município de São Paulo revelam uma postura contraditória com o sentimento que vem ganhando espaço a partir de uma clara opção pelos meios coletivos de locomoção em detrimento do individualismo. É indicativo claro de contradição com a noção de espaço urbano para todos e ambientalmente saudável. Josias Lech, atual vereador em Campinas, foi diretor do Departamento de Transportes Públicos - DTP - de São Paulo Gerson Bittencourt, secretário de Transportes em Campinas e diretor-presidente da EMDEC, foi presidente da SPTRANS
Última alteração em 04 de Setembro de 2009 às 16:23