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Opinião - "Nós NÃO odiamos os idosos"

Eu estou entre aqueles petistas que lêem os artigos de Manuel Carlos Cardoso, não duas vezes, mas com a atenção merecida por quem escreve bem e representa o pensamento de uma parcela dos campineiros; discordo de muitas de suas opiniões e, às vezes, da forma como utiliza o espaço que ocupa para apresentá-las. Agora, aproveitando-se de uma frase atribuída a mim, que já afirmei que jamais ocorreu, critica diversos pontos da política municipal de transporte coletivo, a Administração Municipal como um todo e ainda as ações do Governo Federal do PT. Não pretendo aqui contra-argumentar ponto a ponto seus comentários, mas acho oportuno abordar os diretamente relacionados com a Secretaria de Transportes. Reconhecemos que as dificuldades apontadas no uso dos ônibus pelos idosos são verdadeiras, mas reivindicamos o reconhecimento das inúmeras medidas, concretas, tomadas pela Secretaria e pela EMDEC para, se não resolvê-las, pelo menos minimizá-las. Não vou me alongar nos avanços obtidos no Governo Toninho/Izalene no transporte coletivo. Todos se lembram do caos vivido na cidade até o ano 2000 e creio que todos percebem o quanto melhorou. E por reconhecer que há ainda muito por fazer me aterei aos aspectos mais diretamente relacionados com os idosos que explicam, ao meu ver, o porquê de momentâneas divergências do Governo com esse segmento e, ao mesmo tempo, reafirmam o nosso compromisso com eles. Apesar dos ônibus fabricados no país, com degraus altos, de fato não facilitarem o acesso de pessoas com dificuldade de locomoção, foi esta Administração que criou as condições institucionais para que empresas e alternativos voltassem a investir na cidade, renovassem e ampliassem suas frotas e adquirissem veículos mais confortáveis que beneficiam não só os idosos, mas a todos os passageiros. E, a partir de setembro, apesar de atender a um público mais específico, começarão a circular pela primeira vez no transporte regular de Campinas ônibus adaptados com elevadores para embarque de usuários em cadeiras de rodas. Também conhecemos e enfrentamos os problemas de tratamento dos idosos pelos motoristas e cobradores. Nesse sentido, a EMDEC desenvolve um trabalho permanente junto às empresas de ônibus, ao Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários e a grupos da terceira idade, em conjunto com o Conselho Municipal de Idosos, onde contamos com a colaboração de muitos militantes da terceira idade, como o Dr. Luiz Faria, tendo consciência que seus frutos serão colhidos a longo prazo, pois pretendemos mudar comportamentos infelizmente consolidados há longo tempo. No trânsito, foi constituído um grupo específico, com participação de 20 instituições da terceira idade, para educação e aprendizado em todos os aspectos da circulação; educação porque pretendemos criar neles agentes multiplicadores de novos valores na organização do transporte na cidade, e aprendizado porque cada atividade é uma verdadeira aula para as equipes da EMDEC, ministrada por estes voluntários. Foi junto com este grupo que desenvolvemos campanhas de conscientização como a da Reserva Solidária, que trata do respeito ao assento preferencial existente nos ônibus. Todas estas ações foram reconhecidas e renderam à EMDEC uma homenagem pública dos idosos no desfile de Sete de Setembro e o recebimento na Câmara Municipal, em 2003, do Diploma de Mérito Amigo da Terceira Idade. Mas não poderia deixar de comentar o problema que, nesse momento, nos coloca em embate com este segmento, com o qual temos toda esta trajetória em comum. Recentemente, um projeto de lei apreciado na Câmara Municipal propôs a ampliação da gratuidade no transporte coletivo às pessoas maiores de 60 anos - o limite atual é de 65 anos. Este foi o assunto principal da reunião com os representantes dos idosos, na qual me atribuem a tal frase que não disse. Como em todas as demandas deste tipo, sou radicalmente contrário a conceder ou ampliar isenções tarifárias para idosos, estudantes, grávidas ou qualquer outro grupo social, às custas dos demais usuários, por mais simpáticas que pareçam estas propostas, porque seu efeito é perverso. A operação do serviço de transporte custa caro e o cálculo da tarifa nada mais é do que a divisão destes custos pelo número de usuários pagantes. A conta é muito simples: para cada gratuidade concedida, sem uma fonte alternativa de recursos para compensá-la, o preço da passagem paga pelos demais usuários aumentará na mesma proporção para reequilibrar o sistema. Garantimos o direito constitucional da gratuidade, no transporte convencional, aos idosos maiores de 65 anos, mas não podemos apoiar a ampliação deste benefício sem a cobertura de uma receita alternativa, orçamentária ou extra-orçamentária, o que obrigaria a Prefeitura a majorar a tarifa, beneficiando poucos em detrimento de muitos. É uma posição antipática à primeira vista, mas responsável e necessária. Isto foi explicado aos participantes daquela reunião, e será reiterado ao Conselho Municipal, em data já agendada para esclarecer, de vez, esta situação. A Secretaria de Transportes e todo o Governo Democrático Popular tiveram como uma de suas principais características o respeito e o diálogo aberto com todos os segmentos da sociedade, formulando e implementando as suas políticas setoriais de forma participativa, mas sem entretanto abrir mão de suas posições. E, como não poderia deixar de ser, esta também tem sido a nossa posição frente aos idosos. Marcos Pimentel Bicalho Secretário Municipal de Transportes
Última alteração em 26 de Julho de 2004 às 14:40