Notícias

ver todas
Histórias que o Terminal Central tem para contar

Neste ano, o Terminal Central completa vinte anos. Em duas décadas de existência, foram acumuladas histórias de vida de trabalhadores e usuários do transporte coletivo de Campinas. Aproximadamente 60 mil pessoas passam pelo Terminal diariamente. Das 192 linhas de ônibus municipais, 52 passam pelo TC. O Terminal abre às 4h50 e fecha às 0h30. Durante todo o dia, pessoas transitam a trabalho e a passeio. Há também aqueles que têm no Terminal o destino da viagem. Um grupo de pessoas com deficiência auditiva e na fala se reúne pelo menos uma vez por semana, sempre no período da tarde, para trocar idéias no Terminal antes de ir às aulas na Unicamp. Além de ser um ponto de referência importante na cidade, o acesso ao local é fácil. Com um fluxo tão intenso de pessoas, o Terminal se transformou em palco para as histórias mais diversas. Otaviano Ferreira dos Reis Neto, Chefe do Departamento de Terminais, Pontos e Abrigos, que trabalha na área do transporte municipal há 18 anos, conta momentos de alegrias e tristezas que viveu dentro do TC. Neto diz que já chamou socorro médico diversas vezes ao se deparar com pessoas passando mal. Por outro lado, sorri orgulhoso ao contar sobre as inúmeras gestantes que entraram em trabalho de parto ali mesmo. "Todas as vezes que isso aconteceu, nós as levamos para o hospital, mas nunca um bebê nasceu aqui." O Chefe do Departamento conta que é comum que as pessoas esqueçam objetos no Terminal e nos ônibus. Bolsas, carteiras e celulares estão entre os objetos mais esquecidos. Estes são entregues aos fiscais da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas - EMDEC/Setransp - nos terminais ? são cadastrados e só são entregues depois que o dono responde a uma série de perguntas sobre o que está procurando. "Alguém vem reclamar uma carteira, por exemplo. Eu pergunto a cor, o que tinha dentro, o modelo, para garantir que não seja entregue para a pessoa errada. Já encontramos até dentadura perdida aqui, mas a pessoa nunca veio buscá-la", brinca. Neto reforça a importância dos objetos encontrados serem entregues sempre nas mãos dos agentes da Emdec que são identificados. Durante todo o dia, revezando-se em três turnos, fiscais que trabalham no TC verificam os horários de entrada e saída de carros, controlam os prefixos, dão informações aos passageiros e, se necessário, vão para as ruas com o intuito de orientar o tráfego e evitar tumultos no Terminal. Além disso, os fiscais autuam os coletivos que eventualmente estejam em situação irregular. Luiz Rovari Donizette, há 18 anos na EMDEC, é encarregado da fiscalização. Assim como Neto, guarda muitas lembranças vividas no Terminal. Ele revela que, da cabine que ocupa no Terminal, já acompanhou a trajetória de pessoas que transformaram totalmente suas vidas. "Vi homens que apareciam sempre bem vestidos e pegavam ônibus aqui para ir trabalhar. De repente, começaram a decair, chegando à situação de moradores de rua", relembra o encarregado. Rovari, cujo pai foi cobrador na extinta Companhia Campineira de Transportes Coletivos -CCTC- e na Viação Santa Catarina -Visca-, entrou para trabalhar na Setransp depois de prestar um concurso público. Com esforço e dedicação, cresceu no trabalho e hoje ocupa um cargo de liderança. De uma cabine alta, bem no meio do Terminal, vê tudo o que acontece a sua volta. Com bom humor, conta que, apesar da boa vontade em auxiliar os passageiros, nem sempre consegue. Ele diz que muitas pessoas têm referências difíceis de identificar. E há situações totalmente inusitadas. "Um dia, eu vi um homem saindo do banheiro feminino e perguntei para o cidadão o que ele estava fazendo ali, num sanitário para mulheres. Ele respondeu: ?não, se fosse para mulher não estaria escrito feminino, mas sim feminina!?" Rovari ficou sem resposta. O experiente fiscal é alegre, gosta de conversar, mas quando fala de suas obrigações, fica sério. "Daqui de cima, da cabine, eu observo todo o Terminal e vejo se tem algum problema." Ele observa através do vidro com olhos treinados e atentos. Uma agente da Guarda Municipal entra na sala e ele aponta um homem na plataforma e avisa que ele está mexendo com as mulheres que passam. Ela sai da sala dizendo que vai tomar providências. Neto afirma que atualmente o Terminal está com um movimento excessivo, que tende a diminuir com a implantação do novo Sistema de Transportes, o InterCamp, que irá implantar o bilhete único e instalar na cidade as estações de transferência de passageiros. Hoje, diversas linhas passam pelo TC com o objetivo de estabelecer um horário de referência para os passageiros. Com a mudança das linhas, os percursos serão menores e não será necessário que elas passem pelo Terminal. O Chefe do Departamento de Terminais, Pontos a Abrigos diz que a mudança será gradativa para que os usuários possam se adaptar às alterações. Denise Pereira. Colaborou Ana Carolina Bertho
Última alteração em 29 de Agosto de 2005 às 11:47