Observar cães guiando pessoas cegas ainda é uma cena rara no Brasil, mas poderá se tornar mais frequente em Campinas, a partir de agora. Para ampliar a mobilidade e autonomia das pessoas com deficiência visual, a Prefeitura de Campinas e o Instituto Magnus, o maior centro de formação de cão-guia da América Latina, localizado em Salto de Pirapora, região de Sorocaba (SP), anunciaram, nesta quinta-feira (25/11), um trabalho em conjunto no município. A iniciativa estimula a adesão ao uso do cão-guia na cidade e promove a inclusão social, segurança e qualidade de vida das pessoas com deficiência visual.
A etapa inicial contempla as inscrições para receber o cão-guia, de forma gratuita. Em um segundo momento, estão previstos cursos, treinamentos e sensibilizações, envolvendo, inclusive, motoristas de ônibus, táxi e transporte por aplicativo.
O cão-guia é um animal treinado especialmente para ajudar pessoas com deficiência visual em seu cotidiano, com tarefas que demandam mais atenção e cuidado como, por exemplo, conduzi-las em seus deslocamentos. Atualmente, existe somente um cão-guia em atividade em Campinas.
A parceria envolve a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec); e as secretarias de Transportes (Setransp) e Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos; que passam a fomentar e divulgar as ações do Instituto Magnus na cidade, como forma de atrair mais pessoas interessadas em ter um cão-guia. A Secretaria de Educação apoia o projeto.
Uma cerimônia realizada na Escola Municipal de Ensino Fundamental “Presidente Humberto Alencar Castelo Branco”, localizada no Jardim Nova Europa, marcou o lançamento da parceria. O evento contou com a presença do prefeito Dário Saadi, dos secretários municipais Vinicius Riverete (Transportes), José Tadeu Jorge (Educação), Vandecleya Elvira do Carmo Silva Moro (Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos); do presidente da Emdec, Ayrton Camargo e Silva; do diretor de Políticas Públicas para as Pessoas com Deficiência, Paulo Guimarães; e da diretora da escola, Mara Sílvia do Amaral Vian. Representaram o Instituto Magnus o instrutor trainee de cão-guia, Caíque Valeriano; e a assistente social e Coordenadora de Relacionamento, Pâmela Alves Menck, que apresentou o projeto ao público, ao lado de Roberta Mantovani, da área de Educação para Mobilidade da Emdec. O vereador Permínio Monteiro representou a Câmara Municipal. Também participaram o presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Benedito Pazzinatti; além de representantes do Instituto Pró-Visão e Centro Cultural Louis Braille.
“Essa parceria com o Instituto Magnus ampliará a autonomia das pessoas com deficiência visual em Campinas. Parabenizo a Emdec pela iniciativa e tenho certeza de que iremos mudar a vida de muitas pessoas com deficiência visual, dando mais dignidade, promovendo a mobilidade inclusiva, a integração social e a qualidade de vida”, disse o prefeito.
“Recentemente, implantamos semáforos sonoros em dez cruzamentos da Avenida Francisco Glicério. O estímulo ao uso do cão-guia é mais uma iniciativa que amplia a mobilidade inclusiva em Campinas”, destacou o secretário de Transportes.
O presidente da Emdec lembrou que “a Emdec tem tradição de associar a inclusão à mobilidade e colocar o tema em suas políticas de educação de trânsito. Hoje é uma data histórica para a cidade, ao iniciarmos as inscrições do projeto, que ampliará a autonomia e a inclusão social das pessoas com deficiência”, disse.
Utilizando audiodescrição para iniciar sua fala, a secretária de Assistência Social enfatizou que “a política pública que queremos é aquela que garante autonomia aos cidadãos”.
Também participaram da cerimônia os usuários de cães-guia, doados pelo instituto, Carlos Eduardo Simões e seu cão-guia “Chicó”; e o pequeno Pietro D’Paula Meneghini e seu cão de assistência “Walter”; além da deficiente visual e aluna da EMEF, Sofia Helena dos Santos Silva. Para marcar o início das inscrições, o deficiente visual, Luís César Amaral, assinou a primeira ficha de cadastro no projeto, em Campinas.
“Minha deficiência se tornou muito mais leve com o apoio do cão-guia. Quando utilizamos bengala, somos rotulados como deficientes visuais. Com o cão-guia, passamos a socializar mais”, relatou Carlos Eduardo, que tem Chichó como fiel companheiro há três anos e meio.
A EMEF Humberto Alencar Castelo Branco foi indicada pela Secretaria de Educação por ter as dependências acessíveis às pessoas com deficiência, além de atender 40 alunos no programa de educação inclusiva, duas crianças com baixa visão e uma cega. Para simular as dificuldades enfrentadas diariamente pelas pessoas com deficiência visual, o Instituto Magnus instalou no local um túnel sensorial com obstáculos.
Os participantes foram convidados a atravessar o “Túnel Sensorial”, de olhos vendados, vivenciando a experiência de se locomoverem privados da visão. A dinâmica desperta a consciência sobre o papel transformador que o cão-guia pode ter na vida das pessoas com deficiência visual, ao promover mais segurança e mobilidade.
“As pessoas acreditam que ter um cão-guia é inacessível, devido ao custo e trabalho envolvidos na formação do animal. Iniciativas como esta são muito importantes para que mais pessoas saibam que é possível ter um cão, que será um meio transformador em suas vidas. Nossa intenção é contribuir com a inclusão social e promover a autonomia das pessoas com deficiência visual, por meio da utilização do cão de assistência”, destacou o gerente geral do Instituto Magnus, Thiago Pereira.