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Entrevista: Desafios atuais e futuros da nova gestão

A Emdec está sob nova gestão. Ayrton Camargo e Silva, arquiteto formado pela PUC Campinas é o novo presidente. Camargo tem especialização e mestrado em Planejamento Urbano na mesma instituição, onde também atuou como professor convidado.

O novo presidente, atuou na assessoria da Diretoria de Engenharia e Planejamento do Metrô de São Paulo, no Núcleo de Inovação. É membro do Icomos – International Council on Monuments and Sites. Integrou a diretoria executiva da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP). Foi diretor de Planejamento da Emdec (2001 e 2004), quando desenvolveu o projeto da nova rodoviária de Campinas. Trabalhou na Secretaria Municipal de Transportes de São Paulo, na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e presidiu a Estrada de Ferro Campos do Jordão.

No primeiro mês à frente da Emdec, Ayrton Camargo e Silva fala sobre políticas públicas de mobilidade urbana e detalha os desafios da empresa para o futuro. 

- Qual é o principal desafio de Campinas em termos de mobilidade?
ACS: O maior desafio está relacionado às políticas de mobilidade urbana com priorização ao transporte público coletivo, precisamos promover uma ampla reestruturação dos deslocamentos na cidade. É preciso que o transporte público tenha mais qualidade para que mais pessoas optem pelo transporte coletivo em detrimento do individual, levando em conta a segurança do sistema, a confiabilidade e a redução do tempo de viagem.
 
Precisamos ter consciência de que o transporte individual, que foi priorizado ao longo de gerações, altera o espaço urbano, de maneira irreversível. É com essa visão que retorno para a Emdec e vou trabalhar para priorizar a mobilidade pelo transporte público coletivo e ampliar a segurança em todos os modais de deslocamento. 
 
- Quais serão os primeiros passos para aprimorar a o transporte público coletivo na cidade?
ACS: Será viabilizar as condições necessárias para que as vias e a cidade sejam amigáveis para a operação do transporte coletivo. Uma das iniciativas será intensificar o uso das faixas exclusivas nos horários de pico, garantindo mais agilidade ao sistema e a redução de custos operacionais relativos à manutenção e combustível. Também iremos melhorar a programação semafórica e otimizar a distância entre os pontos de parada para privilegiar o deslocamento dos ônibus.
 
Já realizamos um levantamento das avenidas que apresentam maior fluxo de ônibus do transporte público e estudamos maneiras de tornar a operação mais eficiente. Em paralelo, mapeamos as principais linhas com maior demanda. Está em andamento um completo diagnóstico da operação dessas linhas, desde o cumprimento de horários e itinerários até o atendimento aos pontos. Intensificamos o monitoramento presencial, que ocorrerá inclusive no interior dos veículos. A ideia é identificar todo e qualquer fator que esteja impactando a operação programada. 
 
Neste período de pandemia, são 186 linhas em operação, o que indica a complexidade do sistema, que precisa de constantes intervenções, sobretudo neste momento de mudança de fase do Plano São Paulo em curtos períodos. Ainda assim, diversas medidas práticas já foram tomadas, como a inclusão de mais veículos, que ficaram disponíveis como frota reserva nos cinco principais terminais; e acréscimo de frota em diversas linhas, nos picos da manhã e da tarde. 
 
- Quais são as ações para a redução de acidentes de trânsito?
ACS: Campinas tem uma tradição de redução gradativa, mas constante dos acidentes, apesar do crescimento da frota de veículos. Essa conquista sempre esteve apoiada nas ações de engenharia de tráfego, fiscalização e educação.
 
Embora seja um ponto sempre polêmico, os equipamentos de controle da velocidade são fruto de uma situação de risco de segurança identificada. Campinas foi a primeira cidade do Brasil a implantar radares e a entender a relação entre mortes no trânsito e aumento da segurança por meio de controle informatizado. Hoje, colhe os frutos desse pioneirismo. Fica a nossa gratidão à coragem dos pioneiros que fizeram Campinas ser o que é hoje, uma cidade que preserva vidas no trânsito.
 
Com a mesma filosofia de adotar ações embasadas em dados estatísticos, já estamos nos debruçando sobre o mapeamento das vias com maior índice de acidentes, no último ano, para identificar causas e propor intervenções. 
 
- Como o Sr. enxerga um possível reaproveitamento do transporte por trilhos em Campinas?
ACS: A discussão do modo ferroviário cabe em três principais vertentes. A primeira é a articulação macrometropolitana, que envolve as duas maiores regiões metropolitanas do Estado de São Paulo. A ligação por trilhos Campinas-São Paulo, já em estudos pelo Governo do Estado para implantação, garantiria que as duas macrometrópoles funcionem de maneira complementar, fortalecendo a economia dos municípios da Região Metropolitana de Campinas.
 
A segunda possibilidade é o trem metropolitano dentro da Região Metropolitana de Campinas, o chamado eixo estrutural Vinhedo-Sumaré, que favoreceria o acesso dos municípios da região à capital da RMC, que é Campinas. 
 
E a terceira vertente é o sistema sobre trilhos na esfera municipal. O eixo mais viável seria o Norte-Sul, ligando a região que é um verdadeiro polo de ciência e tecnologia, o Distrito de Barão Geraldo, ao Aeroporto de Viracopos. 
 
- Quais serão as diretrizes para dar sequência ao desenvolvimento da ciclomobilidade? 
ACS: O estímulo ao transporte não motorizado é uma diretriz da nossa gestão. O nosso norte será ampliar  o uso deste modal, com foco em três tipos de deslocamentos: recorrente (casa-trabalho), tendo a bicicleta como forma de integração ao transporte público coletivo, na chamada “first ou last-mile” (trecho inicial ou final do percurso desejado); eventual (turismo e lazer); e ciclo frete, que é uma modalidade pouco discutida e bastante viável para a distribuição de cargas regulamentares. 
 
- Como avalia a evolução da Emdec nos últimos anos?
ACS: A Emdec passou por uma reestruturação funcional muito importante. Atualmente, está estruturada por processos e foram criadas diretorias estratégicas. Nosso maior desafio agora será integrar todas as áreas para que elas atuem de forma complementar e colaborativa, tanto no planejamento como na implementação das políticas de mobilidade.
 
Última alteração em 12 de Fevereiro de 2021 às 17:41